Reporting the Understory

A Fulbright Research Project About Independent Journalism in the Brazilian Amazon

Featured Pieces/Matérias em Destaque

O Veículo de Notícias na Amazônia que Leva Informações Críticas a Territórios Indígenas

5 de maio de 2025

Desde 2017, os povos indígenas da região do Alto Rio Negro, na Amazônia, usam uma nova ferramenta para defender seu território: a notícia. A partir de sua sede em São Gabriel da Cachoeira - o município mais indígena do Brasil - o canal de notícias Rede Wayuri transmite informações em vários idiomas nativos para os 23 diferentes povos indígenas espalhados por 750 comunidades da região. Wayuri, cujo nome significa ‘trabalho coletivo’ na língua indígena nheengatu, já compartilhou informações críticas sobre a prevenção da disseminação da COVID-19 e relatou o impacto catastrófico das mudanças climáticas em todos os territórios indígenas. Mas, mais do que tudo, ao produzir notícias de territórios indígenas sobre povos indígenas e para públicos indígenas, a Wayuri mobilizou comunidades indígenas na proteção de seus próprios direitos e territórios. Quando a Wayuri foi criada em 2017, os povos indígenas da região estavam sendo inundados com campanhas de desinformação nas redes sociais, incentivando-os a abrir seus territórios protegidos à mineração, disse Ray Baniwa, um dos fundadores do veículo. As campanhas, que promoviam a ideia de que as tribos da região se tornariam ricas com a chegada da mineração, foram efetivas dentro dos territórios indígenas. Eles costuraram uma desconfiança generalizada dos líderes comunitários e do principal grupo de direitos indígenas da região, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), disse Baniwa. “Muita gente caiu nesse discurso, aquelas falas que empolgam, animam o pessoal, porque elas acham que é a verdade”, disse Baniwa. “Esse enfraquecimento, essa crise que a gente estava vivendo nessa época, fez com que as lideranças pedissem para FOIRN para que buscassem uma forma de dar resposta, de combater essa desinformação que estava circulando no território, de fazer contra-narrativa”. Wayuri estabeleceu um público notavelmente amplo em todo o Alto Rio Negro e, ao fazê-lo, conseguiu reconstruir o apoio ao movimento indígena entre as comunidades indígenas da região. Em São Gabriel da Cachoeira, muitos dos motoristas de táxi ouvem Wayuri, enquanto Juliana Radler, outra fundadora da Wayuri, estima que 70% da população indígena de 45 mil pessoas na região tem acesso e conhece o veículo. A Wayuri, que conta com uma parceria com a ONG Instituto Socioambiental e apoio financeiro de benfeitores, incluindo a União Europeia, tem uma ampla rede de correspondentes de comunidades indígenas em toda a região do Alto Rio Negro. Eles fazem reportagens de seus próprios territórios, enviando notícias para a redação centralizada em São Gabriel da Cachoeira, que compila as informações em forma de boletins de áudio ou programas de rádio. Essas informações são então distribuídas por toda a região via WhatsApp, rádio ou bluetooth. Muitos dos correspondentes são jovens, que recebem formação no jornalismo através de oficinas periódicas em São Gabriel da Cachoeira. Através de seu trabalho com a Rede Wayuri, eles se envolveram ativamente na proteção dos direitos indígenas. O movimento indígena estava um pouco distante da juventude e uma juventude que não estava mais tão próxima dessa geração que lutou pela demarcação”, disse Radler. “Então, um grupo ficou ali muito unido e trocando informação, e isso ajudou muito também a disseminar, as lutas, a renovar também a imagem da FOIRN no território”. A cobertura da Wayuri incluiu explicar o Plano de Gestão Territorial e Ambiental da região - um documento crucial que orienta a gestão sustentável e a proteção de cada território indígena no Brasil - destacando a cultura indígena local, fornecendo atualizações sobre como a legislação estadual e federal afeta os direitos indígenas e entrevistando candidatos para eleições locais. Mas talvez a reportagem mais crítica de Wayuri tenha sido sobre saúde pública. Durante o auge da pandemia de COVID-19, que causou grandes estragos no estado do Amazonas, a Rede Wayuri aumentou sua frequência de publicação, enviando instruções críticas de distanciamento social e gravando entrevistas com especialistas em saúde pública. A linguagem científica e médica em torno da pandemia era difícil para as pessoas entenderem, disse Claudia Wanano, editora da Wayuri, então compartilhar as informações em termos familiares para os ouvintes era fundamental. O título de um boletim de áudio, por exemplo, dizia aos ouvintes para ficarem do tamanho de um pirarucu, um peixe gigante da Amazônia, longe dos outros. A Wayuri também transmitiu as informações em várias línguas indígenas. “Levando essas informações assim nas línguas, eu vejo que elas ficam bem mais esclarecidas”, disse Wanano. Ao contrário de iniciativas anteriores de comunicação indígena no Brasil, que se concentraram principalmente em informar o público não indígena sobre a cultura e os direitos indígenas, a Wayuri fornece informações explicitamente para o público indígena. Essa missão tornou-se crítica nos últimos anos, dada a chegada da Internet - em grande parte através da Starlink - aos territórios indígenas e, com ela, um dilúvio de notícias falsas. “A gente quer fortalecer nossa narrativa dentro do nosso próprio território, a partir das vozes desse território”, disse Baniwa. “A gente enfrentou esse governo passado, onde chegava fake news todo dia, então a gente meio que foi uma barreira para tentar conter e combater essa informação”. Para Gave Cabral, presidente da organização de educação midiática Abaré, com sede em Manaus, que realiza oficinas com a Wayuri, o veículo indígena é uma “dose de esperança” para o jornalismo. Cabral disse que o ambiente midiático na Amazônia é extremamente concentrado nas grandes cidades, e há pouquíssima cobertura das áreas rurais, onde as narrativas costumam ser dominadas por políticos locais. “Quando surge uma iniciativa como a Rede Wayuri, eu acho que é um respiro e dá para dizer: ‘Poxa, a gente ainda não está com tudo perdido, ainda tem uma esperança de que é possível fazer comunicação no interior do Amazonas, apesar de todas essas dificuldades econômicas, logísticas, políticas’”, disse Cabral. Embora grande parte do jornalismo tradicional pareça estar em crise, a Wayuri representa o tipo de iniciativa de comunicação de base que está crescendo, disse Cabral. “Não é sobre isso quando a gente fala em crise. Não tem crise para o jornalismo popular, para o jornalismo comunitário. Eles, na verdade, são a solução para esse jornalismo”. Parte do sucesso da Wayuri vem do fato de os próprios jornalistas serem membros das comunidades indígenas do Alto Rio Negro. “É importante, nós mesmos, divulgando as informações, nós indígenas mesmo porque houve jornalistas de fora que vêm e trazem informações que eles não compreendem”, disse Wanano. “Acaba prejudicando a nossa imagem dos povos e da região de nós mesmos”. Os jornalistas da Wayuri, dada a sua compreensão pessoal das comunidades indígenas da região, também sabem como se comunicar melhor com seu público. “A gente sempre fala essa linguagem mais local, regional, essa linguagem dos povos indígenas”, disse Wanano. “A gente tenta levar essas informações e não deixa essa parte cultural, do jeito de falar, de narrar, de contar”. Falando ao seu público em termos familiares e línguas maternas, Wayuri rapidamente estabeleceu a confiança entre as comunidades da região, o que é necessário para combater eficazmente as notícias falsas e disseminar informações críticas. Também inspirou a criação de várias outras organizações e coletivos de comunicação indígena na Amazônia, tornando-se um modelo de uso da informação para defender a soberania e o território indígena. “A missão da rede dos comunicadores é isso - combater realmente essa questão das mentiras, das notícias falsas, de tentar esclarecer, mas levando assim no nosso próprio jeito de comunicar”, disse Wanano.

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O Veículo de Notícias na Amazônia que Leva Informações Críticas a Territórios Indígenas

5 de maio de 2025

Desde 2017, os povos indígenas da região do Alto Rio Negro, na Amazônia, usam uma nova ferramenta para defender seu território: a notícia. A partir de sua sede em São Gabriel da Cachoeira - o município mais indígena do Brasil - o canal de notícias Rede Wayuri transmite informações em vários idiomas nativos para os 23 diferentes povos indígenas espalhados por 750 comunidades da região. Wayuri, cujo nome significa ‘trabalho coletivo’ na língua indígena nheengatu, já compartilhou informações críticas sobre a prevenção da disseminação da COVID-19 e relatou o impacto catastrófico das mudanças climáticas em todos os territórios indígenas. Mas, mais do que tudo, ao produzir notícias de territórios indígenas sobre povos indígenas e para públicos indígenas, a Wayuri mobilizou comunidades indígenas na proteção de seus próprios direitos e territórios. Quando a Wayuri foi criada em 2017, os povos indígenas da região estavam sendo inundados com campanhas de desinformação nas redes sociais, incentivando-os a abrir seus territórios protegidos à mineração, disse Ray Baniwa, um dos fundadores do veículo. As campanhas, que promoviam a ideia de que as tribos da região se tornariam ricas com a chegada da mineração, foram efetivas dentro dos territórios indígenas. Eles costuraram uma desconfiança generalizada dos líderes comunitários e do principal grupo de direitos indígenas da região, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), disse Baniwa. “Muita gente caiu nesse discurso, aquelas falas que empolgam, animam o pessoal, porque elas acham que é a verdade”, disse Baniwa. “Esse enfraquecimento, essa crise que a gente estava vivendo nessa época, fez com que as lideranças pedissem para FOIRN para que buscassem uma forma de dar resposta, de combater essa desinformação que estava circulando no território, de fazer contra-narrativa”. Wayuri estabeleceu um público notavelmente amplo em todo o Alto Rio Negro e, ao fazê-lo, conseguiu reconstruir o apoio ao movimento indígena entre as comunidades indígenas da região. Em São Gabriel da Cachoeira, muitos dos motoristas de táxi ouvem Wayuri, enquanto Juliana Radler, outra fundadora da Wayuri, estima que 70% da população indígena de 45 mil pessoas na região tem acesso e conhece o veículo. A Wayuri, que conta com uma parceria com a ONG Instituto Socioambiental e apoio financeiro de benfeitores, incluindo a União Europeia, tem uma ampla rede de correspondentes de comunidades indígenas em toda a região do Alto Rio Negro. Eles fazem reportagens de seus próprios territórios, enviando notícias para a redação centralizada em São Gabriel da Cachoeira, que compila as informações em forma de boletins de áudio ou programas de rádio. Essas informações são então distribuídas por toda a região via WhatsApp, rádio ou bluetooth. Muitos dos correspondentes são jovens, que recebem formação no jornalismo através de oficinas periódicas em São Gabriel da Cachoeira. Através de seu trabalho com a Rede Wayuri, eles se envolveram ativamente na proteção dos direitos indígenas. O movimento indígena estava um pouco distante da juventude e uma juventude que não estava mais tão próxima dessa geração que lutou pela demarcação”, disse Radler. “Então, um grupo ficou ali muito unido e trocando informação, e isso ajudou muito também a disseminar, as lutas, a renovar também a imagem da FOIRN no território”. A cobertura da Wayuri incluiu explicar o Plano de Gestão Territorial e Ambiental da região - um documento crucial que orienta a gestão sustentável e a proteção de cada território indígena no Brasil - destacando a cultura indígena local, fornecendo atualizações sobre como a legislação estadual e federal afeta os direitos indígenas e entrevistando candidatos para eleições locais. Mas talvez a reportagem mais crítica de Wayuri tenha sido sobre saúde pública. Durante o auge da pandemia de COVID-19, que causou grandes estragos no estado do Amazonas, a Rede Wayuri aumentou sua frequência de publicação, enviando instruções críticas de distanciamento social e gravando entrevistas com especialistas em saúde pública. A linguagem científica e médica em torno da pandemia era difícil para as pessoas entenderem, disse Claudia Wanano, editora da Wayuri, então compartilhar as informações em termos familiares para os ouvintes era fundamental. O título de um boletim de áudio, por exemplo, dizia aos ouvintes para ficarem do tamanho de um pirarucu, um peixe gigante da Amazônia, longe dos outros. A Wayuri também transmitiu as informações em várias línguas indígenas. “Levando essas informações assim nas línguas, eu vejo que elas ficam bem mais esclarecidas”, disse Wanano. Ao contrário de iniciativas anteriores de comunicação indígena no Brasil, que se concentraram principalmente em informar o público não indígena sobre a cultura e os direitos indígenas, a Wayuri fornece informações explicitamente para o público indígena. Essa missão tornou-se crítica nos últimos anos, dada a chegada da Internet - em grande parte através da Starlink - aos territórios indígenas e, com ela, um dilúvio de notícias falsas. “A gente quer fortalecer nossa narrativa dentro do nosso próprio território, a partir das vozes desse território”, disse Baniwa. “A gente enfrentou esse governo passado, onde chegava fake news todo dia, então a gente meio que foi uma barreira para tentar conter e combater essa informação”. Para Gave Cabral, presidente da organização de educação midiática Abaré, com sede em Manaus, que realiza oficinas com a Wayuri, o veículo indígena é uma “dose de esperança” para o jornalismo. Cabral disse que o ambiente midiático na Amazônia é extremamente concentrado nas grandes cidades, e há pouquíssima cobertura das áreas rurais, onde as narrativas costumam ser dominadas por políticos locais. “Quando surge uma iniciativa como a Rede Wayuri, eu acho que é um respiro e dá para dizer: ‘Poxa, a gente ainda não está com tudo perdido, ainda tem uma esperança de que é possível fazer comunicação no interior do Amazonas, apesar de todas essas dificuldades econômicas, logísticas, políticas’”, disse Cabral. Embora grande parte do jornalismo tradicional pareça estar em crise, a Wayuri representa o tipo de iniciativa de comunicação de base que está crescendo, disse Cabral. “Não é sobre isso quando a gente fala em crise. Não tem crise para o jornalismo popular, para o jornalismo comunitário. Eles, na verdade, são a solução para esse jornalismo”. Parte do sucesso da Wayuri vem do fato de os próprios jornalistas serem membros das comunidades indígenas do Alto Rio Negro. “É importante, nós mesmos, divulgando as informações, nós indígenas mesmo porque houve jornalistas de fora que vêm e trazem informações que eles não compreendem”, disse Wanano. “Acaba prejudicando a nossa imagem dos povos e da região de nós mesmos”. Os jornalistas da Wayuri, dada a sua compreensão pessoal das comunidades indígenas da região, também sabem como se comunicar melhor com seu público. “A gente sempre fala essa linguagem mais local, regional, essa linguagem dos povos indígenas”, disse Wanano. “A gente tenta levar essas informações e não deixa essa parte cultural, do jeito de falar, de narrar, de contar”. Falando ao seu público em termos familiares e línguas maternas, Wayuri rapidamente estabeleceu a confiança entre as comunidades da região, o que é necessário para combater eficazmente as notícias falsas e disseminar informações críticas. Também inspirou a criação de várias outras organizações e coletivos de comunicação indígena na Amazônia, tornando-se um modelo de uso da informação para defender a soberania e o território indígena. “A missão da rede dos comunicadores é isso - combater realmente essa questão das mentiras, das notícias falsas, de tentar esclarecer, mas levando assim no nosso próprio jeito de comunicar”, disse Wanano.

The News Outlet in the Amazon Bringing Life-Saving Information to Indigenous Territories

May 5, 2025

Since 2017, Indigenous peoples in the Upper Rio Negro region of the Amazon have used a novel tool to defend their territory: the news. From its headquarters in São Gabriel da Cachoeira--the most Indigenous municipality in Brazil-- news outlet Rede Wayuri broadcasts information in several native languages to the 23 different Indigenous peoples scattered across 750 communities in the region. Wayuri, whose name means “collective work” in the indigenous language nheengatu, has shared life-saving information about preventing the spread of COVID-19 and reported on the catastrophic impact of climate change across Indigenous territories. But more than anything, by producing news from Indigenous territories about Indigenous peoples and for Indigenous audiences, Wayuri has mobilized Indigenous communities in protection of their own rights and territory. When Wayuri was established in 2017, Indigenous peoples in the region were being inundated with disinformation campaigns on social media encouraging them to open up their protected territories to mining, said Ray Baniwa, one of the outlet’s founders. The campaigns, which promoted the idea that tribes of the region would become wealthy with the arrival of mining, were effective within Indigenous territories. They sewed widespread distrust of community leaders and the region’s principal Indigenous rights group, the Federation of Indigenous Organizations of the Rio Negro, Baniwa said. “Many people fell for that discourse, those speeches that excite and stir people up because they believe it's the truth,” Baniwa said. “That weakening, that crisis we were going through at the time, led the leadership to ask FOIRN to find a way to respond — to fight the disinformation that was circulating in the territory, to create a counter-narrative.” Wayuri has established a remarkably widespread audience throughout the Upper Rio Negro and in doing so, has been able to rebuild support for the Indigenous movement among the region’s Indigenous comunities. In São Gabriel da Cachoeira, many of the taxi drivers can be heard listening to Wayuri while Juliana Radler, another founder of Wayuri, estimates that 70% of the 45,000-person Indigenous population in the region has access to and is familiar with the outlet. The news outlet, which relies on a partnership with the NGO Instituto Socioambiental and financial support from benefactors including the European Union, has a wide-ranging network of correspondents from Indigenous communities across the Upper Rio Negro region. They report from their respective territories, sending news back to the centralized editorial staff in São Gabriel da Cachoeira, who compile the information in the form of audio bulletins or radio shows. That information is then distributed throughout the region via WhatsApp, radio or bluetooth. Many of the correspondents are young people, who receive training in news-gathering through periodic workshops in São Gabriel da Cachoeira. Through their work with Rede Wayuri, they have become actively involved in protecting Indigenous rights. “The Indigenous movement was somewhat distant from the youth — a youth that was no longer as connected to the generation that fought for land demarcation,” Radler said. “So the group stayed closely united and kept exchanging information, and that really helped spread awareness about the fight and also renew FOIRN’s image in the territory.” Wayuri’s coverage has included breaking down the region’s PTGA--a crucial document guiding the sustainable management and protection of each Indigenous territory in Brazil--highlighting local Indigenous culture, providing updates on how state and federal legislation affects Indigenous rights and interviewing candidates for local elections. But perhaps Wayuri’s most critical reporting has been on public health. During the peak of the COVID-19 pandemic, which wreaked havoc in the Amazonas state, Rede Wayuri increased their publication frequency, sending out critical social-distancing instructions and recording interviews with public health experts. The scientific and medical language surrounding the pandemic was difficult for people to understand, said Claudia Wanano, an editor at Wayuri, so sharing the information in familiar terms for listeners was critical. The title of one audio bulletin, for example, told listeners to stay the length of a pirarucu, a giant Amazonian fish, away from others. Wayuri also broadcast the information in various Indigenous languages. “By sharing this information in their own languages, I see that they become much more informed,” Wanano said. Unlike previous Indigenous communication initiatives in Brazil, which have mostly focused on informing the non-Indigenous public about Indigenous culture and rights, Wayuri provides information explicitly for Indigenous audiences. That mission has become critical in recent years given the arrival of the Internet--largely through Starlink--to Indigenous territories and with it, a deluge of fake news. “We want to strengthen our narrative within our own territory, through the voices from this territory,” Baniwa said. “We faced the last administration [of former-President Jair Bolsonaro], when fake news was coming in every day, so we kind of became a barrier to try to contain and combat that information.” For Gave Cabral, president of Manaus-based media education organization Abaré, which runs workshops with Wayuri, the Indigenous outlet is a “dose of hope” for journalism. Cabral said the media environment in the Amazon is incredibly concentrated on the large cities and there is very little coverage of rural areas, where narratives are typically dominated by local politicians. “When an initiative like Rede Wayuri emerges, I think it’s a breath of fresh air, and it makes you say, ‘Wow, not everything is lost yet. There’s still hope that it’s possible to operate communication initiatives in the interior of Amazonas, despite all these economic, logistical, and political difficulties.’” While much of traditional journalism appears to be in crisis, Wayuri represents the kind of grassroots communication initiative that is growing, Cabral said. “That’s not what we’re talking about when we speak of a crisis. There is no crisis for popular journalism, for community journalism. They are, in fact, the solution for journalism.” Part of Wayuri’s success comes from the fact that the journalists themselves are members of the Upper Rio Negro’s Indigenous communities. “It’s important that we ourselves share the information — we Indigenous people — because there have been outside journalists who come and bring information they don’t understand,” Wanano said. “It ends up harming the image of our peoples and our region.” Wayuri’s journalists, given their personal understanding of the Indigenous communities of the region, also know how to best communicate with their audience. “We always speak this more local, regional language, the language of the Indigenous peoples,” Wanano said. “We try to bring this information while preserving the cultural aspect, the way of speaking, narrating and telling.” Speaking to their audience in familiar terms and maternal languages, Wayuri has quickly established the trust among the region’s communities that is needed to effectively combat fake news and disseminate life-saving information. It has also inspired the creation of a number of other Indigenous communication organizations and collectives in the Amazon, becoming a model for using information to defend Indigenous sovereignty and territory. “The mission of the network of communicators is that: to really combat the issue of lies, fake news, to try to clarify, but doing it in our own way of communicating,” Wanano said.

Media Education: A Journalist’s Solution to Disinformation in the Amazon

March 23, 2025

In the Amazon, journalists are trying their hand in the classroom. As fake news and biased coverage floods the region, independent news outlets have begun active campaigns to teach the public how to spot disinformation, think critically about news and find trustworthy sources. Referred to as media education, the effort represents a remarkable expansion of the role of journalists. No longer are they consumed solely with reporting the news, but they are also taking an active role in building a more thoughtful, engaged public. The hands-on strategy has shown promise in restoring readership and rebuilding trust in legitimate news organizations that have long struggled to break through the onslaught of fake news on the Internet. In the Amazon, media education initiatives have particularly sought to combat rampant environmental disinformation that has undermined Indigenous groups, environmental protection laws and legitimate environmental reporting. “There was a problem in Manaus that was bigger than the lack of news outlets. It was the lack of media education,” said Jullie Pereira, reporter at InfoAmazonia and co-founder of Abaré, a media education organization in Manaus. “How are we going to found an outlet to publish specialized news and major investigations and major denunciations if we have a population that doesn’t even read, that has difficulty interpreting?” Abaré, which was created in 2019, creates lesson plans for teachers, gives workshops at local schools and holds discussions about local reporting. The intention was to build “a way for us to expand journalism's ties with a wider audience, an audience that doesn't necessarily understand how journalism works,” said Gave Cabral, president of the organization. Similar initiatives are occurring in other parts of the Amazon. Carta Amazônia, an independent news outlet based in Belém, also operates its own school, giving lectures and workshops in fact-checking and disinformation to students in Belém as well as Indigenous groups in the region. Another independent outlet in Belém, Amazônia Vox, has already demonstrated the significant impact this kind of engagement with local communities can have for news outlets. It runs an initiative in which students from a rural high school in Pará edit its articles before they’re published, exposing the students to legitimate reporting and encouraging them to think critically about the information they consume. The project has already led to a huge spike in Amazônia Vox’s readership in the school’s municipality. Even the Brazilian government has contributed to the media education movement in the Amazon. Last year, it announced the project MídiaCOP in partnership with France to train educators in the Amazon in media education and prepare a group of students to cover COP30 in Belém as young reporters. The initiative is part of the Lula administration’s goal to train 300,000 teachers in media education by 2027. Cabral said the focus of media education is not on simply telling the population which sources are trustworthy and which are not. Instead, Abaré attempts to democratize information by stimulating critical thinking about information sources and giving people tools to use their own voices to combat predominant media narratives. This point is crucial for Patricia Blanco, one of the coordinators of EducaMídia, a Brazilian media education organization that runs programs focused on the Amazon. She said the concept of media education should be centered around social inclusion, helping all to engage critically with the society around them. EducaMídia teaches people how news organizations work, how to find news from a variety of trustworthy sources and how to do their own fact-checking. But mostly, the focus is on “teaching how to think, teaching how to ask questions,” Blanco said. Blanco said it’s crucial that journalists and their news outlets participate in media education initiatives, as some are doing in the Amazon. “Journalists need to engage in this moment to educate their readers about what journalism is and what it is not,” Blanco said.

Educação Midiática: Uma solução do jornalista para a desinformação na Amazônia

23 de março de 2025

Na Amazônia, os jornalistas estão entrando na sala de aula. Enquanto as notícias falsas e a cobertura tendenciosa inundam a região amazônica, veículos independentes iniciaram campanhas ativas para ensinar o público a identificar desinformação, pensar criticamente sobre notícias e encontrar fontes confiáveis. Referido como educação midiática, o esforço representa uma notável expansão do papel dos jornalistas. Eles não são mais consumidos apenas por relatar as notícias, mas também estão assumindo um papel ativo na construção de um público mais atencioso e engajado. A estratégia mostrou-se promissora para restaurar a audiência e reconstruir a confiança em organizações de notícias legítimas que há muito lutam para romper o ataque de notícias falsas na Internet. “Tinha um problema em Manaus, que era maior do que a falta de veículos. Era a falta de educação midiática”, disse Jullie Pereira, repórter da InfoAmazonia e cofundadora da Abaré, organização de educação midiática em Manaus. “Como é que a gente vai fundar um veículo para publicar notícias especializadas e grandes investigações e grandes denúncias se a gente tem uma população que nem lê, que tem dificuldade de interpretar?”. Abaré cria planos de aula para professores, ministra oficinas em escolas locais e realiza discussões sobre o jornalismo local. A intenção era construir “um caminho de a gente expandir os laços do jornalismo, com um público mais amplo, um público que não necessariamente entende como funciona o jornalismo”, disse Gave Cabral, presidente da organização. Iniciativas semelhantes estão ocorrendo em outras partes da Amazônia. A Carta Amazônia, uma agência de notícias independente com sede em Belém, também opera sua própria escola, dando palestras e oficinas de verificação de fatos e desinformação para estudantes em Belém, bem como grupos indígenas da região. Outro veículo independente em Belém, a Amazônia Vox, já demonstrou o impacto significativo que esse tipo de engajamento com as comunidades locais pode ter para os veículos. Ela executa uma iniciativa na qual os alunos de uma escola rural no Pará editam suas reportagens antes de serem publicadas, expondo os alunos a reportagens legítimas e incentivando-os a pensar criticamente sobre as informações que consomem. O projeto já levou a um enorme aumento no número de leitores da Amazônia Vox no município da escola. Até mesmo o governo brasileiro tem contribuído para o movimento de educação midiática na Amazônia. No ano passado, anunciou o projeto MídiaCOP, uma parceria com a França para capacitar educadores da região amazônica em educação midiática, com o intuito de preparar um grupo de estudantes para cobrir a COP 30 em Belém como jovens repórteres. A iniciativa faz parte da meta do governo Lula de capacitar 300 mil professores em educação midiática até 2027. Cabral disse que o foco da educação midiática não é simplesmente dizer à população quais fontes são confiáveis e quais não são. Em vez disso, o Abaré tenta democratizar a informação, estimulando o pensamento crítico sobre as fontes de informação e dando às pessoas ferramentas para usar suas próprias vozes para combater as narrativas predominantes da mídia. Esse ponto é crucial para Patricia Blanco, uma das coordenadoras da EducaMídia, uma organização brasileira de educação para a mídia que realiza programas voltados para a Amazônia. Ela disse que o conceito de educação midiática deve ser centrado em torno da inclusão social, ajudando todos a se envolverem criticamente com a sociedade ao seu redor. A EducaMídia ensina as pessoas como os veículos de notícias funcionam, como encontrar notícias de uma variedade de fontes confiáveis e como fazer sua própria verificação de fatos. Mas, principalmente, o foco está em “ensinar a pensar, ensinar a fazer perguntas”, disse Blanco. A coordenadora acrescentou que é crucial que os jornalistas e seus veículos participem dessas iniciativas de educação midiática, como alguns estão fazendo na Amazônia. “Jornalistas precisam se engajar neste momento para educar seu leitor sobre o que é jornalismo e o que não é”, disse.

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About the Project/Sobre o Projeto

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In the fight over the fate of the Amazon Rainforest, journalists have taken a side, arming themselves with the most powerful tool at their disposal: rigorous and accurate reporting. This website will examine the wave of independent and environmental news outlets that have arisen in the Amazon over the last decade, showing the strategies they use, the topics they cover and the impact they have.

Na luta pelo destino da Floresta Amazônica, os jornalistas tomaram partido, armando-se com a ferramenta mais poderosa à sua disposição: reportagens rigorosas e precisas. Este site examinará a onda de jornais independentes e socioambientais que surgiram na Amazônia na última década, mostrando as estratégias que eles usam, os tópicos que cobrem e o impacto que têm.

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